Quando o suicídio, infelizmente, se torna uma opção
Suicídio, assim como tantos temas ainda considerados tabu pela sociedade, é a expressão máxima do descontentamento e do sofrimento emocional, quando a pessoa não sabe mais como viver com o sofrimento e busca na morte a solução. Segundo o Mapa da Violência de 2014¹, o Rio Grande do Sul ficou na terceira posição no ranking brasileiro de suicídio, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais, primeiro e segundo colocados, respectivamente. Nosso estado é conhecido pelos altos índices dessa prática, principalmente a cidade de Venâncio Aires que leva, lamentavelmente, o título de cidade recordista mundial de suicídio².
Contra essa realidade, é preciso desmistificar alguns pontos que o senso comum considera possíveis incitadores do suicídio, como por exemplo, falar abertamente sobre o tema. Chamado de Efeito Werther, grande parte das pessoas acredita que falar publicamente sobre o assunto e utilizar os meios de comunicação para tal, seria incentivar o suicídio, provocando ondas por indução ou repetição¹. Esse é um mito que precisa ser combatido, afinal não é porque não se fala que o assunto ou a prática deixa de existir. Falar sobre suicídio é necessário e urgente, precisamos conversar sobre essa infeliz escolha que algumas pessoas farão no decorrer de suas vidas. Falar sobre suicídio não incita ninguém a cometê-lo, mas abre espaço para a discussão e alivia os sentimentos de quem pensa em acabar com a própria vida.
Quando questionadas se desejam realmente se matar ou se querem apenas acabar com o sofrimento, a maioria responde que o real desejo é a segunda opção, mas que não encontrando meios para vencer os desafios da vida, acabam encontrando no término dela a solução definitiva para o seu sofrimento. Por isso é importante dar abertura para esse tema, pois possibilita que a pessoa reflita sobre o real desejo, que em momentos de fragilidade acabam se confundindo.
Da mesma forma, acredita-se popularmente que "quem quer se matar não fala, se mata de uma vez". Essa frase pode parecer cruel mas é repetida inúmeras vezes até por profissionais da saúde (aqui falo de pessoas que conviveram em ambientes hospitalares e relataram diálogos dessa ordem)³. Falar sobre suicídio é interpretado muitas vezes como a pessoa que quer chamar atenção e que não pretende de fato se matar. Entretanto, a pessoa que finalmente tem coragem de falar que pensa ou planeja o suicídio precisou de muita coragem para fazê-lo e naquele momento pede ajuda! Esse é o alerta máximo, se alguém lhe procura falando sobre suicídio entenda como um pedido de ajuda e busque auxílio de profissionais e serviços qualificados, como o Centro de Valorização da Vida (CVV).
Esse serviço funciona através de voluntários, previamente treinados, que trabalham através da escuta por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas por dia, e o melhor é que as ligações são gratuitas e podem ser feitas de todos os cantos do Brasil através do número 141.
Além disso tudo que já comentamos, é importante ficar atento à mudanças bruscas no comportamento das pessoas próximas a nós. Todos passamos por mudanças e isso é normal e saudável, fundamentais no nosso processo evolutivo e de amadurecimento, entretanto cada pessoa lida de maneira diferente às adversidade da vida. Um hobby que antes era praticado pela pessoa e que agora não lhe dá mais prazer ou que ela não pratica mais. Pequenas mudanças de que a vida não tem mais a mesma cor e que as coisas já não andam tão bem podem ser sinalizadores importantes, assim como frases pessimistas: "eu quero sumir", "eu quero morrer", "sou um fardo na vida dos outros", "não aguento mais". Fique atento a esses sinais e procure, em um primeiro momento, buscar ajuda qualificada e se aproximar dessa pessoa, se aproximar do sofrimento dela, porque quem sabe doando um pouco do seu tempo ela consiga se abrir e entender que passamos por momentos de dor e que dar fim a vida não é a melhor saída, mesmo que pareça a única naquele momento. É importante sinalizar que existem sim outros caminhos e que a pessoa não está sozinha!
E finalizo ressaltando a importância da conversa, afinal o índice de suicídio em jovens brasileiros cresceu 30% nos últimos 10 anos, o que nos leva a questão de que a famosa "aborrêscencia" nem sempre é uma apenas uma fase complicada da vida e, pode sim, ser sinalizador de pensamentos suicidas. Temos a falsa ideia de que a depressão atinge somente os adultos e confundimos questões importantes, acreditando que o jovem que se tranca no quarto e não quer falar com ninguém está passando pela adolescência, quando na verdade pode não conseguir falar sobre seus sentimentos e a complexidade que é sair da infância e aos poucos adentrar o mundo adulto das responsabilidades.
E lembre-se: as pessoas com transtorno mental, como a depressão, estão no grupo de risco quando se fala em suicídio, mas é importante saber que o comportamento suicida é um período de extremo sofrimento e não, necessariamente, um transtorno mental. Ou seja, mesmo que os índices entres pessoas com transtorno mentais cometendo suicídio sejam maiores, o ato em si não fica restrito à essa população.
___________________________________________________________________________________________
¹ http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2014_jovens.php
² http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT356206-1708-2,00.html
³ Relatos de profissionais da área da saúde enquanto trabalhavam em ambientes que recebiam pessoas que haviam tentado suicídio sem êxito